quarta-feira, 5 de dezembro de 2012


ॐ Fly ●•٠·˙:



Veja amor, o que eu li pra você...

é tão profundo..



v


- Que mar é esse em que te afogas?

- É um abismo.
- Crês, de facto, ser o abismo?
- Sinto-o, sei-o. É o abismo que todos aguardam. 
Este é o abismo que todo o homem teme. 
É este o abismo que extingue todas as chamas e fogos.
Este é o Abismo.
- E alguma vez ouviste esse abismo chamar-te?
- Não. Senti-lhe apenas o frio de que é feito.
- Como saberás, então, que esse abismo te deseja na penumbra 
e obliteração do seu vácuo?
- Sei-o, apenas.
- Sente-lo, apenas?
- Sim. Porque este Abismo pertence-me. 
É a minha criação, o meu asilo e a minha definitiva
metamorfose dar-se-á aqui, no Abismo.
- Que metamorfose é essa de que falas?
- É a minha ressurreição, a minha absolvição, a minha libertação…
como lhe quiseres chamar.
- Sentes-te preso?
- Enclausurado.
- E que mais sentes?
*- Sinto que o Abismo se esconde debaixo da ondulação dos rios, 
na forma como a luz invade os quartos, nas vozes que se projectam, 
austéras, contra mim em timbres perniciosos. 
Sinto que tudo me abandonou e que devo regressar ao Abismo 
pois em tudo o que vejo e sinto ele esta lá, a chamar-me.
Encontrei que já nada há aqui para encontrar.
O tudo tornou-se o nada e o nada é apenas vazio, ausência, vácuo, torpor.
- E que pensas encontrar no Abismo?
- Nada.
- Então, qual é a diferença?
- A diferença é que o Abismo sou eu.


(Pedro Alves )

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